Denise Accurso
O mundo parecia ser um lugar triste. Ela estava triste e esse sentimento parecia irradiar-se e penetrar em tudo o que tocava.
Lorena tomou o resto do café frio. Levantou, foi até o caixa e pagou.
Estava desanimada. Sua vida, segundo ela, estava um marasmo. Nenhum amor, nenhuma paquera, nada. Perdera seu emprego no banco e agora trabalhava para uma empresa terceirizadora, fazendo a mesma coisa de antes por um terço do salário. Ganhara peso recentemente e, diferente de antes dos trinta, não conseguia perder, por mais fome que passasse.
Caminhava pela rua com a cabeça longe, invadida por uma espécie de tédio pela vida. Nunca acontecia nada interessante em sua vida. Quando alguma coisa acontecia, era ruim, como a perda do emprego.
Levantou a cabeça, surpreendida, quando um cavalo começou a andar ao seu lado, cavalgado por um rapazote, sem camisa e sem calçado.
– Ô dona, acorda aí!
– Que foi?
– Passa essa bolsa que isso é um assalto.
– Tu tá me assaltando, moleque?
Ele puxa a rédea e o cavalo meio que entorta a cabeça para o lado dela. Ela está caminhando junto a um muro longo de um clube.
– Tô. Se não me passar a bolsa, jogo esse cavalo em cima de ti.
Lorena não carrega muito dinheiro nem celular, mas tem sua identidade e cartão de crédito na bolsa. Faz um movimento instintivo de escondê-la. O rapaz a espreme contra o muro. A barriga do cavalo a aperta. Nauseada, ela lhe estende a bolsa.
– Toma aqui essa merda e me deixa em paz!
O rapaz pega a bolsa e sai a galope. Lorena respira fundo. Então se dá conta: acaba de ser assaltada. E a arma utilizada foi um cavalo.
O ridículo, o inusitado da situação a fazem gargalhar até às lágrimas. Chega em casa ainda rindo. A mãe estranha toda aquela alegria:
– O que foi, Lorena? O que aconteceu?
Ela está quase sufocada de tanto rir. Consegue dizer:
– Mãe… mãe… isso é tão engraçado… tu não vais acreditar… Eu… eu fui assaltada!
“Agora ela enlouqueceu de vez”, pensa a pobre mãe.