Denise Accurso
“Nas pegadas das minhas botas
Trago as ruas de Porto Alegre
E na cidade dos meus versos
O sonho dos meus amigos”
Mrreu Bebeto Alves. Entre tantos depoimentos emocionados acerca desse artista que tanto admiro, vi um músico que, embargado, dizia que o considerava o maior artista gaúcho.
Não tenho essa medida, não possuo conhecimento para sequer arriscar um palpite sobre isso. Mas Bebeto Alves sempre esteve meio ligado, na minha emoção, à Porto Alegre, minha cidade natal, de onde fui embora aos cinco anos e voltei aos vinte, saí novamente com 23 e, com 28, retornei e nunca mais a deixei.
Vou contar uma pequena história das tantas coisas que me surpreendem aqui.
Quando eu e meu marido fizemos dez anos de união, ele me presenteou com uma correntinha com nosso apelido carinhoso. Foi um presente que eu amei, e prometi que jamais a tiraria do pescoço.
Foi uma promessa cumprida na medida do possível: nos últimos doze anos, ela arrebentou algumas vezes. Nas primeiras vezes eu a levava à joalheria que a tinha confeccionado. Depois, à que estivesse mais perto. Eram vários dias de demora, pois tinham que enviar para o ourives consertar, no centro.
Decidi eu mesma levar ao ourives e cortar o intermediário. Foi assim que descobri, nos altos do prédio da Galeria do Rosário, o seu Antônio, que fazia o conserto na hora enquanto conversávamos de tudo um pouco.
Há cerca de três semanas precisei do serviço. Na minha última circulada pelo centro, tinha ido até sua sala e a encontrei fechada. Acreditei que tinha, finalmente, encerrado suas atividades. Mesmo assim fui à galeria, certa de achar outro profissional que me atendesse.
Surpresa boa: seu Antônio estava de volta. Subi e ele logo me atendeu, embora estivesse conversando com outro cliente. O outro era, ou tinha sido, militar. Seu Antônio fora paraquedista da aeronáutica. Foi então que o cliente desconhecido, diante do meu espanto, disse: “Ela não sabe da operação ***, conta pra ela”. E ele contou. Seu Antônio participara de um grupo de elite que treinava para matar o Che Guevara. Isso mesmo, aquele amor de velhinho estava sendo preparado para um assassinato em missão secreta das Forças Armadas Brasileiras. E ele disse, desconsolado: “A CIA chegou antes. Aí dissolveram nosso grupo”.
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