Denise Accurso
Cristiane já estava com a passagem de retorno comprada. Sua permanência em Timbó não fazia mais sentido, agora que tinha sido despedida. Melhor voltar pra casa, ficar perto do filho e tentar arrumar emprego lá no Paraná mesmo. Seu ônibus sairia segunda-feira de manhã.
Decidiu aproveitar bem seu ultimo final de semana na cidade. Produziu-se toda e foi dançar com as amigas. A noite prometia, a danceteria estava cheia de gente. Seu olhar é sugado pelo rapaz alto que entra, com sorriso largo e simpático. Ele também a nota.
Logo ele se aproximou do grupo da Cris. Uma das amigas o conhecia: “ele é caminhoneiro e um cara muito legal”. A atração entre os dois era evidente. Dançaram, beberam, trocaram beijos, até que ele sugeriu:
– Eu moro com meus pais, perto daqui. É um lugar bonito, tem cachoeiras, muito verde… Podíamos ir para lá aproveitar o domingo. Eu te deixo segunda-feira na rodoviária.
O plano agradou Cristiane, pareceu-lhe um belo encerramento para sua temporada em Santa Catarina. Passaram na sua casa, ele em seu caminhão, e se foram.
Começaram a subir um morro completamente deserto. O motor do caminhão trabalhava ruidosamente. Cristiane olhava em volta e só via mato e escuridão. Os minutos passavam e nada, nenhuma casa, não chegavam nunca. Ela começou a rezar para sair viva dessa aventura. Suplicava a Deus que lhe permitisse rever seu filho, que a poupasse. Pensou várias vezes em se jogar do caminhão, mas olhava para seu acompanhante e tinha certeza de que seria facilmente alcançada e subjugada. Além disso, o tombo poderia machucá-la e impedi-la de correr. Achou melhor ficar onde estava e preparou-se para o pior.
Finalmente chegaram. Era noite. Os pais vieram receber o filho e os três conversaram em alemão. Embora Cristiane não entendesse uma única palavra, era evidente o desagrado da mãe do rapaz. Sua expressão, o tom de suas palavras o revelavam.
Foram acomodados cada um em um quarto e a mãe postou-se na sala. O filho disse alguma coisa à qual ela respondeu alto e rispidamente naquela língua incompreensível, com gestos apontando para as portas dos quartos e depois para seus olhos.
Não foi difícil dormir depois de tanta tensão. Cristiane desabou na cama e só acordou com batidas na porta e palavras em alemão. Recebeu da mãe do rapaz uma toalha, entregue com a cara fechada, e um gesto indicando o banheiro.
Depois do café o moço a levou para conhecer as cachoeiras e puderam ter alguma privacidade. Ele a tranquilizou acerca da reação da mãe, dizendo que era assim mesmo.
Na segunda-feira, Cristiane não foi para a rodoviária. Nem terça. Nem quarta. Nem nunca. Ela e a sogra são hoje as melhores amigas.